Thursday, February 08, 2007

O padre de Viseu que vota SIM!!!

Um padre de Viseu disse hoje que votará SIM no referendo de domingo, porque entende que deve acabar a humilhação das mulheres em tribunal e o "verdadeiro infanticídio" a que obriga a lei actual.

Citado pela agência Lusa, o padre Manuel Costa Pinto, de 79 anos, defende que a mulher deve ser libertada "dessa coisa vergonhosa que é o julgamento e os exames à sua vagina" e também do castigo da prisão e deu o exemplo de Jesus Cristo, que perdoou a adúltera.

"Jesus disse "aquele que estiver sem pecado que atire a primeira pedra" e ficou apenas ele e a mulher. Então acrescentou: "eu não te condeno, vai, e não tornes a pecar". O nosso Magistério, papas e bispos, não podem esquecer isto", frisou.

Por outro lado, o padre afirmou não compreender como "pessoas sensatas" podem alhear-se do "verdadeiro infanticídio" que muitas mulheres cometem depois do nascimento dos filhos.

"Mulheres com medo, que não têm dinheiro para ir para o aborto clandestino e muito menos para o estrangeiro, disfarçam a gravidez até ao parto. Vão para uma casa de banho, sai uma criança, aí sim, já uma criança, metem-na num saco e deitam-na ao caixote do lixo, ao esgoto ou até no campo", lamentou.

Na sua opinião, estas situações só acontecem "por causa da lei que existe actualmente", sendo que, nestes casos, já considera existir um crime, porque se o bebé nasceu com vida "é uma pessoa com personalidade jurídica".

"Eu voto "Sim" sem qualquer dificuldade. Não tomo esta atitude de ânimo leve, sei a minha responsabilidade como católico e como padre", frisou, acrescentando não ter receio de ser excomungado.

"Já estive suspenso 17 anos por escrever um livro sobre o celibato a defender que os padres se deviam casar. Hoje já toda a gente diz isso, mas naquele tempo (início da década de 70) fui só eu", contou.

Considera que o Evangelho, com o exemplo de Jesus Cristo, bastaria para justificar a sua opinião, mas, no entanto, preferiu também apontar as posições tomadas ao longo dos tempos para sustentar que, ao despenalizar- se a interrupção voluntária da gravidez até às dez semanas, não estará sequer a falar-se de um "ser humano".

Aludiu ao livro Bioética, que levanta a dúvida sobre o zigoto "ser ou não o adulto em que o embrião se desenvolve", e também Deus, a Medicina e o Embrião, de René Frydman, sobre a ideia do "filho-projecto" .

Esta ideia encontrou-a também no campo católico, numa obra do jesuíta espanhol Carlos Domingues Morano, que "diz que a geração de um filho tem que ter o desejo dos pais, que só com o espermatozóide e o óvulo não há filho", contou. O padre Manuel Costa Pinto garantiu que não há unanimidade mesmo no modo como o Magistério e os teólogos católicos abordam este problema.

Citou São Gregório de Nisse, para quem "não se pode chamar homem ao embrião, dado o seu estado imperfeito; na verdade, nesse estado não passa de uma coisa virtual que, após o devido aperfeiçoamento, poderá atingir a existência do homem; porém, enquanto se encontra nesse estado de inacabado, é qualquer outra coisa".

Também São Jerónimo considerava que "o sémen toma forma, gradualmente, no útero; não há homicídio, enquanto os diversos elementos não forem visíveis e dotados dos seus membros".
P.S. – Para provar que não é só uma questão de fé!!! Mas também se comprova que dentro do dogmatismo não há muita liberdade para pensar diferente!!! Quem diria um padre inteligente, é raro encontrar nos dias que correm!!!

Carminho & Sandra

Actualmente é assim em Portugal:

Carminho senta - se nos bancos almofadados do BMW da mãe. Chove lá fora .Encosta o nariz ao vidro para disfarçar duas enormes lágrimas que lhe rolam pela face. A mãe conduz o carro e aperta-lhe ternamente a mão. Há muito trânsito na Lapa ao fim da tarde. A mãe tem um olhar triste e vago mas aperta com força a mão da filha de 18 anos. Estão juntas. A caminho de Espanha.
(Mais a baixo na cidade)
Sandra senta- se no banco côr-de-laranja do autocarro 22 que sai de Alcântara. Chove lá fora. Encosta o nariz ao vidro para disfarçar duas enormes lágrimas que lhe rolam pela face. A mãe está sentada ao lado dela. Encosta o guarda - chuva aos pés gelados e aperta - lhe ternamente a mão. Há muito trânsito em Alcântara ao fim da tarde. A mãe tem um olhar triste e vago mas aperta com força a mão da filha de 18 anos. Estão juntas. A caminho de casa de Uma Senhora.
O BMW e o autocarro 22 cruzam - se a subir a Avenida Infante Santo.
Carminho despe-se a tremer sem nunca conseguir estancar o choro. Veste uma bata verde. Deita-se numa marquesa. É atendida por uma médica que lhe entoa palavras doces ao ouvido, enquanto lhe afaga o cabelo. Carminho sente - se a adormecer depois de respirar mais fundo o cheiro que a máscara exala. Chora enquanto dorme.
Sandra não se despe e treme muito sem conseguir estancar o choro. Nervosa , brinca com as tranças que a mãe lhe fez de manhã na tentativa de lhe recuperar a infância. A Senhora chega. A mãe entrega um envelope à Senhora. A Senhora abre-o e resmunga qualquer coisa. É altura de beber um liquido verde de sabor muito ácido. O copo está sujo, pensa Sandra. Sente-se doente e sabe que vai adormecer. Chora enquanto dorme.
Carminho acorda do seu sono induzido. Tem a mãe e a médica ao seu lado. Não sente dores no corpo mas as lágrimas não param de lhe correr cara abaixo. Sai da clínica de rosto destapado. Sabe -lhe bem o ar fresco da manhã. É tempo de regressar a casa. Quando a placa da União Europeia surge na estrada a dizer PORTUGAL, Carminho chora convulsivamente.
Sandra não acorda. E não acorda. E não acorda. A mãe geme baixinho desesperada ao seu lado. Pede à Senhora para chamar uma ambulância. A Senhora não deixa, ponha-se daqui para fora com a miúda, há uma cabine lá em baixo, livre-se de dizer a alguém que eu existo. A mãe arrasta a Sandra inanimada escada a baixo. Um vizinho cansado, chama o 112 e a polícia.
Sandra acorda no quarto 122 dias depois. As lágrimas cara abaixo. Não poderás ter mais filhos, Sandra, disse-lhe uma médica, emocionada. Sai do hospital de cara tapada, coberta por um lenço. Não sente o ar fresco da manhã. No bolso junto ao útero magoado, a intimação para se apresentar a um tribunal do seu país: Portugal.
Eu voto sim . Pela Sandra e pela Carminho. Pelas suas mães e avós. Por mim.

Rita Ferro Rodrigues

P.S. – A diferença entre os dois textos, este artigo e a campanha dada ás crianças, é clara na primeira temos relatos ficcionados de um ser que não está provado ser inteligente e temos crianças usadas como veiculo de campanha neste temos a opinião de uma pessoa adulta e não anónima que assina o texto que escreve e utiliza casos que poderiam ser reais.

Thursday, February 01, 2007

"Mãe, como foste capaz de me matar?"

"Um dia quando estava feliz a brincar no mais íntimo das tuas entranhas senti algo de muito estranho, que não sabia como explicar: algo que me fez estremecer. Senti que me tiravam a vida!... Uma faca surpreendeu-me quando eu brincava feliz e quando só desejava nascer para te amar (...) Mãe, como foste capaz de me matar?..." Este é apenas um excerto de uma carta que foi colocada nas mochilas de crianças de dois infantários de Setúbal, o Aquário e a Nuvem, da rede de instituições particulares de solidariedade social (IPSS), e por isso comparticipados pelo Estado, no caso dirigidos pelo Centro Paroquial de Nossa Senhora da Anunciada. A missiva de apelo ao "não" ao aborto, sem estar assinada, motivou a indignação de alguns pais, que protestaram junto das educadoras. E ontem já circulava na Internet em vários blogues.
Contactados os dois estabelecimentos, o DN foi remetido para o padre Vieira, que dirige os infantários. Tentámos contactá-lo para o Centro Paroquial repetidas vezes sem sucesso. O padre Lino Maia, da Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade (CNIS), mostrou-se surpreendido com a carta. Tanto mais que, sublinhou, a CNIS não tem posição oficial sobre o referendo de 11 de Fevereiro. "O nosso discurso desde Novembro é de grande abertura às várias opções." O padre Lino Maia não quis comentar o teor da missiva, mas frisou que se "trata de uma iniciativa localizada".
Um dos pais de uma criança do infantário, que não se quis identificar, considerou "inaceitável" ao DN que o seu filho "tenha sido arregimentado como 'voluntário' numa campanha tão violenta".
A carta de um pretenso feto à mãe que decidiu interromper a gravidez é, de facto, muito violenta. "Diz-me Mãe: quem poderia entrar cruelmente dentro de ti e chegar onde, com tanta segurança eu me encontrava, a fim de me matar? (...) Como poderia eu imaginar que uma mãe fosse capaz de matar o seu filho quando, em casa, não maltratam nem o gato, nem a televisão?"
E continua. "Agora, Mamã, sei tudo. Estou aqui no outro mundo e um companheiro que teve a mesma sorte do que eu, disse-me que sim, que foste tu... Disse-me que há mães que matam os filhos antes de nascerem. Mãe, como foste capaz de me matar? (...) Por acaso pensavas comprar uma máquina de lavar ou um aspirador, com os gastos que talvez eu te iria causar?"
A carta remata com a ameaça do Juízo Final e com um apelo. "Ele me disse que terás de Lhe dar contas do que fizeste! (...) Mamã, antes de me despedir de ti, peço-te um favor, que esta carta que te escrevo, a dês a ler às tuas amigas e futuras mães, para que não cometam o monstruoso crime que tu cometeste."
O Bernardo (nome fictício), de dois anos e meio, que frequenta um dos infantários onde a carta foi distribuída, deu-a à mãe, dizendo-lhe: "Tenho uma prenda para ti!"
P.S. – O teor degradante e o completo absurdo da campanha feita como foi referido nesta noticia faz-me pensar se o lado do "NÂO" tem o objectivo de hipotecar ainda mais qualquer possibilidade de o debate sair do âmbito do achincalhamento e da ofensa moral e condenatória das mulheres que o realizam e com isso levar com que as pessoas que votam "SIM" desta vez o façam de forma mobilizada...é que se o têm estão a conseguir...para além de que poderão hipotecar votos de indecisos que achem que isto não é uma campanha moral mas sim de consciência pessoal...

Mas qual a novidade ?

Nós somos contra a lei de 84.»
«Uma mulher violada não deve ser obrigada a educar aquele filho. Mas matar aquela criança só porque a sua origem não é a desejada não é uma coisa aceitável. A adopção é a solução razoável.»
«Eu nunca ouvi ninguém dizer “nós somos a favor desta lei”»
«Esta atitude laxista relativamente ao aborto vai dar uma volta. Nós daqui a uns tempos vamos discutir de novo a lei de 84».
João César das Neves, mandatário do Movimento Diz que Não, TSF, 31 de Janeiro

Honestamente, eu ficava surpreendido era se tal criatura dissesse outras coisas que não isso. Não se esqueçam que é o mesmo que, creio, disse uma vez que se soubesse que algum dos filhos tinha relações sexuais antes do casamento punha-os fora de casa...

Wednesday, January 31, 2007

Resposta à resposta

http://abibliotecadejacinto.blogspot.com/2007/01/as-razes-da-escolha-xxii.html

Em primeiro lugar, o link vai assim porque ainda não me entendi com este novo blogger...em qualquer caso não posso deixar de responder à Maria Clara Assunção:

1. É mais que óbvio. Uma coisa são problemas psíquicos em sede de serviço de saúde, outra coisa é a relevância da situação em sede de Direito Penal.

2. Desigualdade social é a falta de meios económicos para ter acesso a determinadas necessidades básicas. Não ter filhos. É tão desigualdade social não ter dinheiro para ter filhos como não ter dinheiro para comprar um Mercedes, passe a frieza da comparação.

E quando me referi à personalidade jurídica foi por causa de ter dito que a questão não envolvia terceiros. Ache-se o que se achar relativamente ao feto, não é um terceiro em termos jurídicos.

3. É evidente que podem ser responsabilizados, ainda que seja única e exclusivamente uma responsabilidade dos próprios perante eles próprios. Não é por serem mais novos que deixam de pensar e de decidir, para mais TODA a gente sabe os efeitos da droga e os sérios riscos de algumas delas quanto à dependência.

É evidente que não alinho no discurso das mulheres serem umas desgraçadinhas. Mas não devem ser punidas por abortarem, e devem poder fazê-lo nas devidas condições de saúde e higiene.

4. Precisamente por o Direito Penal não ser dissociável do contexto social e ético de cada sociedade é que há que votar SIM no referendo. Praticamente ninguém defende que quem aborta deve ser punido. E tudo o resto é totalmente secundário, para não dizer irrelevante, face a isso.

5. A questão não é a do estado de necessidade desculpante. A questão é que essa solução continua a impedir a prática do aborto em verdadeiros estabelecimentos de saúde, continuando a levar ao aborto de vão de escada...

6. É que não são mesmo equivalentes. Com um voto SIM, muitas soluções serão possíveis no futuro. Por exemplo, um governo CDS poderá tornar a prática do aborto numa contra-ordenação. O que está em causa, portanto, no referendo, é a despenalização.

7. Haja bom senso...

8. O que é um facto é que a grande maioria dos apoiantes do não são o núcleo mais fundamentalista da igreja católica.

9. Certamente.

10. Nem poderia ser de outra forma.

11. Eu diria excesso de atenção ao debate e reparar claramente no que está por trás das coisas e na fraqueza de argumentos.

12. Se invalida ou não, é irrelevante no caso concreto.

Tuesday, January 30, 2007

IVG - Panorama legal na Europa

Conheça em seguida o panorama legal da IVG na Europa, consultando um folheto informativo sobre o tema preparado pelos eurodeputados do PS:

IVG - Panorama legal na Europa

Não poderia deixar de linkar

Wednesday, January 24, 2007

Crítica de um texto

Fui alertado para um texto de Jorge Miranda defendendo o "não", que supostamente estaria muito bem construído, e, ainda que tendo reservas sobre o que me disseram porque o Professor de Direito Constitucional não apresenta os seus melhores argumentos em qualquer circunstância que interfira com as ideias e interesses da igreja católica (vide a posição no mínimo curiosa que tem sobre o conteúdo dos preceitos constitucionais relativos à educação e ao ensino), li o texto assim que pude. E sobre o que está lá escrito tenho os seguintes comentários a fazer:

1. Se a IVG provoca traumas (o que se é certo que PODE acontecer não é certo que aconteça), é apenas e só um problema da mulher que a pratica, e não é assunto com relevância para o Estado. Essa possibilidade será certamente tida em linha de conta por quem tomar essa difícil decisão.

2. Não vou discutir se a IVG traduz desigualdades económicas e sociais. O que é um facto é que ninguém sabe em que elementos se sustenta Jorge Miranda para dizer que agrava desigualdades económicas e sociais. Para além disso, flagelo social não é de certeza porque não tem efeitos sobre terceiros.

3. O consumo de droga não é um flagelo social. A toxicodependência essa sim. Bem como a prostituição também não o é, desde que praticada por quem em real liberdade o entenda. O tráfico de seres humanos esse sim, é flagelo social.
E mesmo quanto à toxicodependência não me choca rigorosamente nada que ela seja considerada apenas um problema de cada um, e que eventuais actos criminosos a ela associados sejam tratados como devam ser: como puro e simples caso de polícia.~

4. Em qualquer caso, já percebi que Jorge Miranda provavelmente defende o ridículo modelo sueco ultra-repressivo quanto ao consumo de droga, e a ainda mais idiota (e de inspiração clara no feminismo mais radical) criminalização da procura de serviços de prostituição.

5. A atitude de esquerda e de progresso só pode ser uma: ser justo. Quer isso passe pela transformação da realidade, quer não. Quer isso se consubstancie na defesa dos mais pobres, ou dos mais ricos. Etc. E ser justo passa necessariamente por não punir quem decide fazer um aborto e por permitir a quem tome essa difícil decisão fazê-lo em certificadas condições de saúde e de higiene.

6. E o que está em causa não é se existe vida ou não. Isso nenhum referendo pode determinar, por razões que são mais que óbvias. O sentido da pergunta é claríssimo: se a mulher que aborta deve ser ou não punida, e se não sendo punida deve poder interromper a gravidez, repito, em certificadas condições de saúde e de higiene.

7. Dizer que combater as causas reais do aborto só é possível com uma modificação profunda das estruturas da sociedade e do estatuto jurídico do homem e da mulher é pura e simplesmente não concretizar um argumento. E não sabemos quais modificações profundas Jorge Miranda defende. Temo pelo pior, considerando a defesa intransigente que repetidamente faz das quotas de género.

8. Argumentar com o carácter insubstituível de todo o ser humano antes e depois do nascimento só tem um significado possível: que Jorge Miranda opta decididamente pelo feto considerando que a mulher que o pratica deve ser punida. E que tem por consequência manter o flagelo social (esse sim) do aborto clandestino. É que ser de esquerda implica combater realidades injustas. E esse flagelo, cujas vítimas são mulheres com menos posses, está a ser devidamente combatido com um voto SIM.

9. Não vale a pena tentar jogar com palavras e dizer que interrupção é um eufemismo para cessação. De facto, a palavra está em sentido jurídico, veja-se por exemplo a interrupção da prescrição, pela qual os prazos de prescrição voltam a contar do zero a partir daí.

10. Entrar na lengalenga de que é liberalização e não despenalização e que esta última seria a solução equivale a defender que se deveria manter o aspecto punitivo, designadamente através de contra-ordenações. Isso implica condescender com o aborto clandestino.

11. A lei actualmente em vigor foi uma solução de compromisso, abandonando-se o fundamentalismo católico ao salvaguardarem-se as situações verdadeiramente gritantes. A única ponderação que lhe está subjacente é essa e mais nenhuma.

12. A questão da eventual menoridade da mulher é uma questão de âmbito legislativo eventualmente discutível. Mas posteriormente. Não afecta a questão essencial.

13. Quem teve a ideia de inventar a argumentação supostamente a favor do SIM com base no direito ao desenvolvimento da personalidade ou no respeito pelo projecto de vida não devia estar bom da cabeça, decididamente. O que preclude a análise dos argumentos apresentados em contrário, com uma excepção: quando fala em relações que provocam a concepção e em responsabilidade na condução da vida sexual está muito claramente a demonstrar as ideias ultra-conservadoras que tem relativamente ao assunto, com a visão do sexo como algo de pecaminoso.

14. Como já atrás disse, o Estado autorizar estabelecimentos de saúde a praticar abortos é pura e simplesmente decorrência das exigências mais básicas de saúde e higiene públicas e de combate ao aborto clandestino. Nada tem a ver com o direito ao planeamento familiar.

15. Se admitir que não é crime praticar a interrupção voluntária da gravidez por opção da mulher dentro de estabelecimento de saúde legalmente autorizado redunda em legalizar, logo temos que concluir, a contrario, que Jorge Miranda, ao contrário do que atrás diz, defende que deva continuar a ser crime.

16. O Tribunal Constitucional não considerou a pergunta do referendo inconstitucional. E é quem na ordem jurídica portuguesa tinha competência para o fazer.

17. A questão do local só pode servir para iludir. Também, por exemplo, conduzir sem para tal se estar devidamente habilitado é crime, e só entidades devidamente reconhecidas podem proceder à habilitação. Conduzir habilitado por entidade não reconhecida é crime.

18. É um facto que o aborto é consequência da falta de instrução, de planeamento familiar, de emprego, de salário, de que a protecção da maternidade e paternidade que existe é a possível dentro dos recursos disponíveis, e não pode ser superior. Mais uma razão para não se punir quem o pratica, isto para não falar das devidas condições de saúde e higiene.

19. Mas a visão pecaminosa do sexo volta à carga. O aborto é consequência das "taras da sociedade" e da "comercialização do sexo". Cá temos o ultramontanismo no seu melhor: "não têm nada que abortar, é bem feita não tivessem estado na pouca-vergonha". Ou acha que alguém vai abortar como método anticoncepcional ? Isso é a mesma coisa que dizer que quem aborta fá-lo com gosto ou indiferença, o que no máximo dos máximos será coisa raríssima.

20. Dispensa-se a cantilena moralista da civilização materialista, individualismo e consumismo. É materialista quem quer, individualista quem quer, e consumista quem quer. Cada um é livre de tomar as suas opções, as quais dizem apenas respeito a si próprio na sua esfera privada.

21. A garantia de acesso a uma rede nacional de creches nada tem a ver com o assunto. E, aliás, assenta num esquecimento quanto ao esforço repetidamente feito pelos governos socialistas no aumento da rede pública de ensino pré-escolar. E, mais que isso, é algo de muito estranho vindo de quem vem, pois que Jorge Miranda tem defendido sistematicamente uma lógica de rede descentralizada que inclua os privados na rede pública...

22. Nunca li nenhum texto de Jorge Miranda onde defendesse medidas concretas sobre adequação do trabalho dos pais e das mães. Para além disso, o parágrafo final é demagógico: como constitucionalista, sabe melhor que eu que a realização dos direitos económicos, sociais e culturais depende no seu essencial das condições económicas e sociais, o que é totalmente diferente do que está em causa no referendo. E, repita-se, o Tribunal Constitucional não considerou inconstitucional o conteúdo da pergunta.
Citando o José Silva, via Carlos Abreu Amorim:

Eu concordo, em princípio, com o SIM mas vou votar NÃO porque:
- a pergunta não está bem feita(argumento Marcelo Rebelo de Sousa);
OU
- a pergunta esconde outros propósitos inconfessáveis não visíveis no seu texto(argumento JM);
OU
- este tipo de questões não deveria ser objecto de referendos (argumento Pedro Arroja);
OU
- concordo com descriminalização mas com se trata de despenalização (ou vice-versa) ...;
OU
- se em vez de 10 semanas fossem apenas 9 ou então se fossem 11 ...;
- como sou de direita, se ao menos o BE não defendesse o SIM ...;
OU
- como sou de esquerda, se ao menos o CAA votasse NÃO ...;
OU
- se ao menos a pergunta explicitasse que o orçamento do SNS não vai ser onerado ...;
OU
- se a pergunta viesse acompanhada de um declaração de todos os partidos políticos, Assembleia de República, e Ministros a indicar o que pretendem fazer se o SIM ganhar ...;


Para vermos a quantidade de pretextos ridículos que há para votar não. Deixassem-se de hipocrisias: são todos eles argumentos de quem não quer dizer preto no branco que vai votar não porque vai votar de acordo com a indicação de voto dos sacerdotes da fé que professa. Ponto final parágrafo.

Sunday, January 21, 2007

Bispo compara aborto à pena de morte.

Saiu na TSF e transcrevo a noticia da sua forma digital:

À margem de uma reunião com párocos da diocese, o prelado afirmou que «toda a gente ficou horrorizada com a execução de Saddam», sublinhando que «a questão do aborto é uma variante da pena de morte».

No entender do bispo «a vida não se discute, não vai a votos, mas já que o referendo está aí, então a Igreja tem de tomar também posição».

Segundo D. António Moreira Montes, a reunião de hoje, e outras que se seguem nos próximos dias em diferentes zonas da Diocese, servirão para transmitir aos párocos a nota do Conselho Permanente da Conferência Episcopal sobre o referendo.

A nota da Conferência Episcopal, que está a ser divulgada aos párocos de Bragança, refere que «esta não é uma campanha partidária, é uma oportunidade de prestar um esclarecimento sereno sobre os problemas das vida e as responsabilidades que daí decorrem».

«E não queremos transformar isto numa quermesse eleitoral, mas se eu, numa homília, me declaro contra um assassinato também tenho de alargar essa dimensão a todas as fases da vida», afirmou o prelado.

O bispo da diocese de Bragança-Miranda considerou também «uma contradição a posição daqueles que se assumem como paladinos dos direitos humanos e defendem o aborto».

«Tenho dificuldade em compreender que pessoas, associações e partidos políticos que são paladinos dos direitos humanos recusem o primeiro direito humano que é o direito à vida», frisou.

Entretanto, em declarações à TSF, o bispo classificou o aborto como um «variante da pena de morte», mas negou a sua comparação com a execução de Saddam Hussein.
A teoria de que o aborto é uma variante da pena morte que diz que todas as mulheres ou casais que o optem por fazer são "carrascos" e o estado que as apoiará o patrocinador do "genocidio"!!!
Vejamos então esta imagem:

Membros do Regime Ustaše na Croacia com o Arcebispo de Zagreb na época da II Guerra Mundial, o Cardeal Alojzije Stepinac, que foi acusado de apoiar os Ustaše, e que foi formalmente julgado pelas autoridades comunistas da Jugoslávia após a guerra mas, num processo controverso, foi beatificado pelo "Papa" João Paulo II em 1998.

A mensagem é clara, pode-se apoiar e ser o apoiante moral dos massacres e de exterminar sérvios, judeus, ciganos ou quaisquer outros que a este se opusessem ou não professassem a fé católica, incluindo-se aí alguns comunistas croatas.

O prémio é a beatificação e os que abortam é que são os "carrascos" e quem os apoia os "genocidas"!!!

Terei que apoiar o massacre de quantos judeus ou ciganos para ser beatificado?

A chantagem como ultimo recurso!!!

Para quem diz ainda que o que se encontra a referendar não é uma questão religiosa, o Diario de Noticias editou uma noticia intitulada: Quem votar 'sim' fica sem funeral religioso.
"Os cristãos que vão votar 'sim' no referendo serão alvo de excomunhão automática, a mais pesada das censuras eclesiásticas", garante o cónego Tarcísio Alves, pároco há cinco anos em Castelo de Vide (Portalegre). A excomunhão automática atinge ainda "todos os intervenientes na execução do crime, como, por exemplo, médicos e enfermeiros", sublinha, enquanto consulta página a página o Código Canónico.
"Se um católico aceitar a liberalização do aborto incorre na censura da excomunhão e não poderá ser reintegrado na comunidade cristã sem intervenção do bispo", sustenta ainda. Doutorado pela Universidade Católica de Salamanca em Direito Canónico , Tarcísio Alves tem distribuído nos últimos tempos, pelos paroquianos, um boletim informativo em que adverte os devotos para os "perigos" de votar "sim" no próximo referendo e as consequências, junto da Igreja, que poderão sobrevir. "Não fui eu que inventei estas regras, está tudo bem explícito no Cânone 1398" sublinha.
Mas o vigário judicial da diocese de Portalegre e Castelo Branco vai mais longe ao alertar os fiéis para "outros perigos" que podem surgir, se no próximo referendo o voto recair no "sim". "Se votar no 'sim' ou se se abstiver, poderá estar também a cometer um pecado mortal gravíssimo. No referendo até as irmãs vão sair dos conventos porque senão também incorrem num pecado de omissão", adverte.
Para o clérigo trata-se de "um caso grave", porque todos aqueles católicos que violarem as leis da Igreja sobre este ponto "não podem casar, baptizar-se e nem poderão ter um funeral religioso - Cânone 1331.
"Tarcísio Alves garantiu ao DN que "não faz política nem fala do caso durante as missas de domingo, mas no seu boletim paroquial e através de e-mails". O cónego promete continuar a "esclarecer a população e a prova disso passa pela edição, ainda hoje, de mais um boletim que no último parágrafo apela mais uma vez ao voto no 'não'".
A comunidade católica de Castelo de Vide encara estes "avisos" de forma natural e aplaude a atitude do cónego. "Acho bem que expliquem os perigos do aborto às pessoas, principalmente a nós, os mais velhos, que nunca estudámos. O que sabemos é através daquilo que vemos na televisão", diz Piedade Godinho à entrada da igreja.
A mais poderosa das chantagens a ser utilizada é a da fé, Católicos podeis fazer massacres anti-judaicos, a esse proposito citemos parte da historia:
"Num clima de intolerância crescente, surgiu um frade que proferiu um inflamado sermão antijudaico, enquanto o povo se aglomerava em torno da redentora fogueira, aos quais se juntariam mais dois frades dominicanos, Frei João Mocho e Frei Bernardo, exibindo o crucifixo "milagreiro" e fazendo apelos sanguinários contra os judeus: "Heresia! Heresia! Destruam o povo abominável!...".
Mas não mateis as criancinhas!!!

Friday, January 19, 2007

A mais patética das posições pelo Não

Esta.

Lamentável mas não uma absoluta surpresa

Entre outros blogs que já existiam, foi criado agora o blog Sim no Referendo.

Quando este blog foi criado, a dois dos elementos que constituem esse novo blog foram enviados e-mails.

Um deles não o chegou a receber. Outro recebeu-o e ignorou o convite. Para agora pelos vistos aceitar outro só porque a iniciativa veio de um grupo de vedetas da blogosfera. Mas claro, para quem vem do Bloco de Esquerda juntar-se a algo que não considere elite é algo de inadmissível.